Urbloguismo
Arquitetura e Urbanismo pela estudante Ana Rúbia Ferraz
2 de julho de 2010
Receita Urbana: playground em uma vaga de carro
Recorte o pano no tamanho suficiente para que ele cubra o tampo com as espumas e que ainda sobre um pedaço nas bordas do tampo para que seja possível fixá-lo. Para a fixação utilize cola-quente e reforce pregando alguns preguinhos finos.
Neste caso pintamos no pano branco, utilizado para o estofar, o tabuleiro de dama.
Materiais :
• Pano branco
• Tinta de tecido na cor preta
• Pincel
• Acetato
Cortar o acetato de forma quadriculada, em forma de tabuleiro de dama, deixando pequenos quadrados vazios e outros preenchidos com o acetato intercalando-os. Ao final,uma trama se formará. Fixar a trama no pedaço de pano utilizando uma fita crepe. Pintar os espaços vazios da trama sobre o pano com a tinta preta. Esperar secar e retirar a trama.
A idéia desse puffe era proporcionar às crianças liberdade, possibilintando a cada uma montar seu painel como bem desejasse. Para isso, nós fizemos vários elementos que compõe a nossa paisagem no dia-a-dia: carrinhos, nuvens, árvores, casas, sol... Cada elemento desse tinha suas parte recortadas então a criança poderia montar sua casinha com diferentes tipos de talhados, janelas e portas. Na árvore, assim como nas casinhas, a criança tinha como alterar a copa e o tronco. Os carrinhos também foram “desmontados” e a criança colocaria a porta de uma cor e a traseira de outra se quisesse, por exemplo. Para que isso fosse possível utilizamos:
Materiais:
• Pano tipo feltro de várias cores
• Um pedaço de feltro branco para estofar o pufe montagens
• Velcro
• Termolina leitosa
• Pincel
• Cola-quente
• Tesoura
Modo de fazer:
Recortar o feltro formando os elementos desejados: telhado, janela, copa de árvore, etc... (use sua imaginação). Passar Termolina Leitosa em cada pecinha desses elementos para que o feltro não rasgue com facilidade (A termolina deixará o pano mais rígido).
Recortar o velcro em pequenos pedaços e colar um pedaço no verso de cada pecinha dos elementos (somente após a secagem da termolina). Obs.: A parte do velcro que deve ser colada nas pecinhas deve ser a parte mais rígida, pois ela colará no estofado do puffe, que funcionará como um painel para que as crinaças possam fazer suas montagens.
A idéia de colocá-la surgiu com o intuito de resgatar um brinquedo tão antigo, mas que até hoje faz a alegria das crianças, talvez pela sensação de liberdade, de poder quase voar... algo que infelizmente as crianças não tem mais nas nossa cidades metropolintanas... Falta espaço, falta liberdade pra ser criança...
Materiais:
• 1 Pneu
• 8 metros de corda de cizal
• Uma arvore com um galho bem resitente, disposto mais horizontalmente
Jogar a corda por cima do galho da arvore. Envolver o pneu com as duas pontas da corda e dar um nó muito resistente, para que a gangorra seja capaz de agüentar o peso de um adulto.
Os carrinhos foram os objetos que ampliavam as possibilidades de expansão do espaço da vaga. Os pneus são pesados, portanto a criança movimentaria efetivamente apenas este brinquedo com rodinhas. A idéia de pôr rodas em uma roda em uma vaga de carro também brinca com o conceito do trabalho.
Materiais:
• 1 pneu
• 4 rodinhas
• 2 eixos
• 8 roscas e 8 arruelas
• Cola instantânea (superbonder)
• Furadeira
Modo de Fazer:
Fazer dois furos próximos em um lado do pneu e dois paralelos no outro lado para passar o eixo onde ficarão as rodinhas.
Encaixar as rodinhas em cada extremidade do eixo com rosca e arruela e, para o eixo de rotação ficar fixo, pôr cola instantânea.
Qual criança (ou adulto!) não gosta de uma cama elástica? Pois bem, resolvemos utilizar outra parte do pneu para fazer a trama da cama que é a câmara de ar, uma vez q é mais fácil para cortar e costurar, além de ser maleável ao pular.
Materiais utilizados:
• 1 pneu
• 1 câmara de ar
• 5 metros de corda de varal
• Espumas
• Tesoura
• Furadeira
Modo de fazer:
Cortar a câmara de ar em tiras iguais, cerca de 3cm de largura e comprimento de acordo com o pneu escolhido. Mas não se esqueça de esticar a as tiras, pois elas podem ficar frouxas.
Passar a corda de furo por furo, prendendo a cada espaço de 3 cm uma tira de câmera de ar. Quando já tiver colocado metade, começar a fazer uma trama parecida com o xadrex, além de ir passando uma hora por cima outra hora por baixo até obter toda a trama.
Pôr bastante espuma por baixo dessa trama para distribui o peso da pessoa e não forçar tanto as tiras.
Como resolvemos pintar os pneus simulando faixas de interditado isso resultou num trabalho maior. Para que isso fosse possível precisamos de uma fita durex larga e com ela fizemos a parte preta da faixa de interditado. Passamos a fita envolvendo o pneu e só depois pintamos com a tinta amarela. Aguardamos a secagem e retiramos as fitas, então tivemos uma pequena faixa amarela e uma preta (onde estava a fita) e assim sucessivamente por toda parte externa do pneu.
Materiais:
• Tinta à óleo ou esmalte sintético na cor amarela
• Fita adesiva larga, tipo durex
• Pincel
• Aguarrás (para limpar o pincel)
O parquinho de pneus é uma idéia que já existe a algum tempo, mas continua interessante por reutilizar os pneus que são facilmente conseguidos e proporcionam, como unidade, uma potencialidade bastante grande. O playground pode dar muito trabalho, principalmente ao pintar os pneus, mas ao vê-lo pronto e, mais que isso, ao ver as crianças utilizando, percebemos a reação àquilo que imaginamos... as novas formas de apropriação que podem surgir. Ficamos muito satisfeitos ao ver o resultado e foi um ótimo meio de aprendermos a elaborar uma idéia e pô-la em prática, lidando com as limitação de materiais, estruturação e financeira que dispunhamos.
30 de junho de 2010
Resenha sobre Intervenção das Vagas
O Funcionários é um bairro parado, com poucas pessoas nas ruas e quase silencioso (se não fossem os carros) em um sábado pela manhã. Isso ficou claro diante do resultado de expormos alguns objetos no meio das ruas.
A valorização de prédios e do trânsito faz uma relação de causa/conseqüência com a situação, se transformando em um ciclo vicioso: mais prédios e carros, menos pessoas nas ruas; menos pessoas nas ruas, mais valorização de prédios e carros. Logo, segundo Jane Jacobs, as ruas deixam de ser seguras por não ter quem as vigie e esse papel é passado à guardas privatizados que não tem relação direta com a rua e são, portanto, naturalmente menos eficientes¹. A falta de segurança afasta as pessoas da rua e umas das outras.
Nós temos condições de discutir e tentar mudar arquitetonicamente essa situação (que está literalmente na nossa frente), foi isso que entendi que os professores buscavam com o trabalho de ocupar a vaga de um carro de outra forma. Como escreveu Hertzberger, toda arquitetura afeta a sociedade², e dessa vez não foi diferente
Meu grupo propôs um playground para trazer a criança de volta à rua, lugar onde muito esteve e de onde tem se distanciado cada vez mais devido ao processo acima (sem consciência dele na maioria das vezes). Utilizamos pneus porque, além de fazer a relação com a vaga, nós sabíamos de seu uso em parquinhos e, para ampliar a questão, os pintamos como faixas de interditado (apesar de algumas pessoas preferirem relacionar à copa).
O projeto era composto por carrinhos, balanço em árvore, pula-pula e pufes estofados com brincadeiras. Havia sugestão de atividades, mas as crianças (ou mesmo adultos) podiam se apropriar de maneiras diferentes, inclusive dos pneus deitados que delimitavam com a pista.
A interação com o playground foi limitada em quantidade, mas em qualidade foi muito interessante. Atitudes típicas das nossas discussões puderam ser observadas, como pais apressando os filhos para ir embora (o exemplo dos adultos faz diferença¹, nesse caso, infelizmente), mães dizendo que não conhecem outras crianças para brincar com seus filhos e estes empolgados em atividades que não costumam ter, principalmente na rua.
Houveram aqueles que passaram de carro, perguntaram o que era, pediram por ações como essa no bairro e também aqueles apáticos a qualquer coisa que aquilo poderia significar. As pessoas costumam cometer o erro de acreditar que as coisas se organizam de acordo com as melhores intenções, mas devemos ser capazes de distinguir por nós mesmos o que está acontecendo ao nosso redor².
Referências diretas à:
¹Morte e Vida das Grandes Cidades – Jane Jacobs
²Lições de Arquitetura – Herman Hertzberger